A Proporção do Pouco
Talvez haja mais incompreensão,
Em um terço dos meus dias,
Do que acreditar que a vida,
Possui mais de duas vias.
A alma ferida,
De propósito a se acostumar,
Busca respostas em um muro,
Que o tempo está prestes a derrubar.
O frio se torna o melhor amigo,
O vazio o único mundo,
A solidão a única companheira,
A falsidade rasgando até o fundo.
Do que não se tem,
Da espera pela espera do tempo,
Proposto por pessoas,
Que soltam palavras ao vento.
Tais palavras ressoam ao fundo,
Do meu coração,
Me deixam feliz,
Mas tudo se trata de uma ilusão.
A felicidade que procuro é a que tenho,
Mas mesmo assim o muito se torna belo,
Mas não mais que o pouco,
Que tem suas proporções aumentadas,
E que me deixa cada dia mais louco.
A angústia já passou do tempo,
De cicatrizar e dar asas,
A um leve,
E belo luar,
Um céu estrelado,
Há muito tempo,
Já sonhado,
Perto do que acho que seria,
Um mundo onde a sinceridade viveria,
E todo mal,
Combateria,
Onde meu sentimento não morreria,
Por tuas mãos.
Onde eu iria,
Poder ser o que sempre quis,
Longe daquilo que me orgulho do que sou,
Mas eu poderia fazer novamente o que já fiz.
Mas a frieza está amparada por longos braços,
Onde a justiça já se foi há muito tempo,
Onde nunca há chances para brotar amor,
Onde nunca há nosso momento.
Todo o sentido dos outros,
Já se bastou por vir,
Um sentido sem sentido,
Um sentir sem sentir.
Uma máscara que cobre tudo,
Através de uma perfeição,
Que esconde,
O próprio coração.
Uma gana de querer ser mais que o outro,
Um mundo que gira em torno de competição.
As boas intenções já se foram há tempos,
Ninguém acredita mais,
Os valores se foram,
As pessoas se perguntam: “quais?”
Nada vai embora,
Nada morre, nem tudo é presenciado,
O que é verdadeiro ainda existe,
Apenas não é aceitado.
Por que?
Me pergunto todos os dias,
Mas as respostas são tão inúteis,
Tão fracas, tão idiotas,
Tão falsas, tão fúteis,
Que é melhor nem escutá-las,
É melhor deixar o silêncio abafá-las.
Pois é apenas isso,
Que se sabe fazer, não é mesmo?
Ignorar.
Ignorar a esmo.
Quantos mais são resgatados,
Mais ainda são perdidos,
Quanto mais se dá,
Menos se é recebido.
Essa é a regra,
n° 1 do ser humano,
Ser cego,
Ser desumano.
Animais correndo,
Atrás de prestígio,
Procura-se corações,
Mas não há sequer um mínimo vestígio.
Eu sinto que a noite,
Está cada vez mais a me fazer companhia,
E que cada vez menos,
Vejo o brilhar do dia.
Sinto que posso tocar as estrelas,
A lua, o sol, mas sofro com um único por que,
Mas o que me mata mesmo,
É saber que posso tocar você.
Cada vez mais,
O que é verdadeiro é considerado louco,
Mas talvez esta seja,
A proporção do pouco.